O nosso cão tem uma ideia muito clara, levar sempre a sua à vante e, por isso, não é estranho que tantos donos cedam aos desejos do seu animal de companhia. Falamos do cão que depois de comprovar que os seus intentos de “funcionário servil” falharam e perante um dono que não cede aos seus desejos, assume o papel de “ladrão” rouba às escondidas valiosos presentes, como o bife do almoço que deixámos na bancada da cozinha.
Não existem cães cleptomaníacos
A cleptomania é um transtorno psicológico caracterizado pela necessidade imperiosa de satisfazer uma necessidade mental. O cleptómano rouba objectos que não têm especial valor para ele. O cão que rouba fá-lo por fome ou suposta fome, se é comida, ou por aborrecimento quando agarra um objecto da casa como brinquedo e, neste caso, procura sempre objectos que considera valiosos para o seu dono.
Roubos de comida
Grande parte da educação canina, como “sentar” ou “ficar” à ordem, é aprendida facilmente pelos cães porque simplesmente formam parte das suas condutas sociais na sua relação com o superior hierárquico. A alimentação é inerente às condutas sociais, por conseguinte, não deveria apresentar problemas educar um cão a não roubar comida ao chefe. Um exemplo de dois furtos: o cão que por aborrecimento agarra (rouba) um sapato e se entretém a mordiscá-lo e um cão que rouba um bife do almoço da cozinha. No primeiro exemplo, ralhar severamente só irá confundir o cão. Assim faremos deste um ser assustado ou ressentido por uma agressão que não entende, porque agarrar o sapato do dono não é um acto socialmente significativo. O cão castigado por isso adopta uma postura de submissão mas é incapaz de ligar o castigo com a acção de mordiscar o sapato, por muito evidente que nos parece a nós. Referir que, no segundo exemplo, nos canídeos sociais, como os lobos, o casal reprodutor, que são o macho e a fêmea líderes da matilha, comem primeiro começando pelas partes mais apetitosas da peça caçada, como o fígado ou os pulmões. Os lobos numa hierarquia intermédia aguardam que satisfaçam o seu apetite para comer, enquanto vigiam os lobos de posição inferior para que estes não se alimentem saltando a ordem social. A ânsia do cão em pedir comida quando estamos a comer, a capacidade que tem de permanecer ao lado do dono a babar enquanto nos vê comer, não é gula, é a necessidade de saber que tem acesso aos recursos alimentares do grupo e que o líder, o dono, partilha com ele o alimento. Daí a roubar comida é um passo muito curto.
Um cão muito cão
Já reparou na voracidade com que um cão come quando tem outro por perto? Para que o cão se decida a roubar um pedaço de queijo ou de carne na cozinha é necessário que actuem ideias muito enraizadas na espécie. A primeira é a sensação de escassez de comida no lar, no mundo e no universo, que têm todos os cães. O cão também sabe que a comida é status social e poder. Roubar a comida ao chefe do grupo é uma forma muito gratificante de rebeldia.
Reabilitar um cão “ladrão”
Como todas as correcções de conduta, esta deve levar-se a cabo no momento em que o cão é surpreendido a roubar comida, nunca mais tarde. Podemos voltar a ensinar o cão a não roubar comida, mas se este já experimentou como é gratificante o roubo, voltará a fazê-lo quando o dono estiver distraído. O único modo de corrigir o comportamento de “ladrão” é converter cada roubo numa experiência pouco gratificante, recorrendo a truques como pimenta na carne, uma fita adesiva de dupla face sobre o bordo da mesa onde o cão apoia as patas, ou uma lata de cerveja atada por um cordel à carne, por exemplo.
Cuidado com o bem-estar e previna os roubos
Se o cão roubou alimento deverá ser vigiado pois poderão aparecer sintomas de indigestão de algum alimento rico em gorduras ou muito condimentado. Previna deixando os alimentos de fora do alcance do animal ou mantenha-o fora das zonas onde existe comida.